Conforme o Conselho Tutelar de Camboriú, em 2007 foram encaminhados ao Fórum da Infância e Juventude do município 188 processos por atos infracionais, em 2008 foram 123 processos, em 2009 foram 86 processos, em 2010 foram 81 processos, mas em 2011, até o dia 20 de janeiro, foram encaminhados 18 processos.
Segundo Manoel Mafra, diretor do Núcleo de Prevenção às Drogas e à Pedofilia, ligado ao Conselho Tutelar, um dos fatores que motivou a queda dos números nos anos anteriores foi a criação do Programa Acolher e Encaminhar. Entretanto, o aumento de processos no mês de janeiro chama a atenção e preocupa. "A partir do momento que os adolescentes estão nas ruas ociosos, acabam ficando mais expostos a cometerem crimes", comenta.
Mafra ressalta que os problemas relacionados com as drogas e suas conseqüências, em termos gerais e mundial, está fora de controle, por isso ele acredita ser difícil se reverter o quadro se não houver trabalhos sociais de prevenção e uma reestruturação das famílias. "É preciso um olhar diferenciado, cujo objetivo seja que as pessoas acordem para a causa. Independente de se ter usuário na família ou não".
Segundo o presidente do Conselho Tutelar de Balneário Camboriú, Maycon Agne, no ano de 2010 houve 16 casos de ato infracional envolvendo crianças no município, sendo que três deles envolvem adolescentes. "Percebemos que a maioria dos casos acontece à noite, envolvem meninos que estavam na companhia de adolescentes, mas que não tinham a intenção de praticar o ato", explica.
Para Agne, a melhor alternativa para o problema de jovens envolvidos com drogas é a prevenção através de atividades recreativas, contra-turno escolar, cursos de capacitação e mais atenção por parte da família.
Polícia
De acordo com a delegada da Delegacia da Mulher, Criança, Adolescente e Idoso de Balneário Camboriú, Ruth Heins, no município não houve aumento significativo de atendimentos, levando em consideração a quantidade de pessoas que Balneário abrigou durante o mês de janeiro. A delega frisa que, mesmo assim, a maioria dos atendimentos realizados envolve adolescentes moradores do bairro Monte Alegre.
Sobre o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), Ruth comenta que é um bom estatuto, porém, falta aplicabilidade dele. "A lei é criada, mas não há suporte para que ela seja aplicada, por exemplo, não há fiscalização para a aplicação das medidas sócio- educativas e nem acompanhamento no Centro de Internação Provisório para que esse jovem seja ressocializado", avalia.
Para a delegada, não adianta apenas reduzir a idade penal se os presídios estão lotados. "O que deveria ter é uma punição maior sobre os atos cometidos", ressalta.
Segundo o comandante do 12° Batalhão de Polícia Militar, coronel Cláudio Koglin, ainda não há uma estatística pronta a respeito do assunto, no entanto, ele chama a atenção para o ECA, pois em sua visão os menores de hoje não são os mesmos previstos no estatuto há 20 anos. "Os menores estão se comportando como adultos, com a noção exata sobre seus atos", ressalta.
Para o comandante, os jovens não são inocentes e manipulados por adultos, tanto que ao serem abordados pelos policiais eles citam seus direitos, ironizando a autoridade. "Os menores infratores se valem de um estatuto que lhes é favorável, sabendo que a pena é branda", enfatiza.
Monte Alegre
Segundo a delegada da Polícia Civil do Monte Alegre, Daniela Martins de Souza, de forma geral, tem se notado um aumento de jovens em casos de crimes violentos e envolvimento com drogas. "Acredito que isso vai além das questões de Segurança Pública, como por exemplo, desestruturação familiar e até pais envolvidos com drogas", explica.
A delegada salienta que é considerado ato infracional para adolescentes a partir de 12 anos de idade, pois os casos que envolvem menores de 12 anos são encaminhados para o Conselho Tutelar. Daniela chama a atenção, pois alguns casos fogem do controle da polícia. "Constantemente recebemos pais desesperados que não sabem o que fazer com seus filhos. Por exemplo, recentemente um adulto nos procurou porque estava se sentindo ameaçado por uma criança de 10 anos de idade", revela.
Para a delegada, o estatuto é importante, porém não atende mais as necessidades da sociedade, pois as medidas sócio-educativas não estão surgindo efeito. "Um adolescente poder matar até 10 pessoas, porém ficará preso no máximo três anos, e eles sabem disso. Muitos desafiam os policiais, dizendo que não vai dar em nada mesmo", pondera.
Com a palavra o especialista:
A psicóloga Samantha Cassuli Utpadel explica que a adolescência é uma fase em que o indivíduo busca um grupo o qual se identifique e seja aceito, pois esta vivencia social é necessária. "Nesta etapa da vida os amigos possuem grande influência sobre o adolescente", explica.
De acordo com a psicóloga, a correria do dia a dia faz com que as famílias se distanciem, no entanto, é importante que os pais fiquem sempre atentos, principalmente no quesito da liberdade e espaço. "O adolescente já não é mais uma criança e deve ter um tratamento diferenciado, porém, precisa conquistar a liberdade e confiança", salienta.
Samantha comenta que os limites dados aos filhos devem ser de acordo com sua idade e os pais devem manter um bom diálogo com eles, mas sem se esquecerem de estabelecer a autoridade adequada: "As regras e os limites possibilitam que o indivíduo aprenda a fazer escolhas, ter responsabilidade e pensar na conseqüência de seus atos".
Conforme a psicóloga, não há uma explicação exata sobre os jovens estarem se envolvendo com drogas e com a criminalidade, pois não existe uma fórmula que explique o porquê destes comportamentos, já que cada caso é um caso.
O psicólogo Auriano Ramos Filho destaca que o modelo de família entrou em crise, o que gerou uma ausência dos valores para as pessoas. "A impressão que se tem é que os pais estão confusos e as famílias vem se desestruturando de maneira rápida".
Para Ramos, na infância e adolescência o ser humano precisa de referência, as quais levam consigo por toda a vida, por isso a importância do núcleo familiar.
Segundo Ramos, os jovens se envolvem com drogas por não terem bases familiares solidificadas, religiosidade e não saberem lidar com frustrações.
Ramos diz que é preciso que as famílias comecem a elencar suas prioridades, refletindo sobre o que consiste os valores, como por exemplo, a convivência familiar, os limites entre pais e filhos, religiosidade, além do diálogo em família. "Como esperar que uma família seja estruturada se não existe hierarquia de valores? Sei que parece algo fácil, mas não é", avalia.
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FONTE:
http://www.jornaltribuna.com.br/cotidiano.php?id_materia=37437
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